terça-feira, 8 de julho de 2014

Bíblia abriga duas versões do Dilúvio

A narrativa do Dilúvio do Gênesis compõe os capítulos 6-9 do livro de Gênesis, na Bíblia. A narrativa, uma dos muitos mitos sobre inundações encontradas em várias culturas humanas, indica que Deus quis retornar a Terra ao estado de pré-criação do caos aquático inundando a Terra por 370 dias (150 dias de inundação + 220 dias para secar as terras inundadas) por causa dos delitos da humanidade, e então refazê-la usando o microcosmo da Arca de Noé. Assim, o dilúvio não foi uma inundação ordinária, mas uma reversão da criação. A narrativa discute a maldade da humanidade que levou Deus a destruir o mundo por meio do Dilúvio, a preparação da arca para certos animais, Noé e sua família e a garantia de Deus para a existência da vida sob a promessa de ele nunca mais enviaria outro dilúvio.

Embora o consenso dos estudiosos desde o século 19 tem sido o de que esta história não pode ser literalmente verdadeira, alguns grupos religiosos ainda abraçam amplamente a história da Arca. Entre outras questões e problemas estão as imensas dificuldades de explicar como coletar, abrigar, dar de beber, alimentar e cuidar de um grande número de animais em um navio de madeira menor do que muitos navios modernos poderia ser geograficamente encontrada. Por esta e outras razões a história da arca de Noé é geralmente considerada como uma lenda.

Origens e composição

Estudiosos afirmam que a narrativa do Genesis é composta de duas histórias diferentes que foram combinadas na forma final canônica de Genesis 6-9. Alguns acadêmicos chamam estas de Fonte Javista (YHWH) e Fonte Sacedotal (Elohim). Cotter lista algumas das notáveis dificuldades entre as duas fontes: duas razões diferentes são dadas para o porquê do dilúvio acontecer, à Noé são das duas diferentes instruções sobre os animais e aves serem aceitos a bordo na arca, existem dois prazos diferentes dados para quanto tempo durou o dilúvio, existem diferentes explicações explicações para a "natureza das águas do Dilúvio", diferentes circunstâncias pelas quais Noé e os animais deixaram a Arca e dois "nomes divinos" Elohim e Yahweh são usados.

Barry L. Bandstra afirma que existem diferenças no estilo característico e vocabulário, e que eles não são totalmente contraditórios. John Byron diz que, quando existem aparentes contradições, eles não são normalmente vistos como erros por estudiosos judeus, mas como alusões a significados mais profundos. Mesmo interpretes posteriores tem procurado descobrir a harmonia básica que subjaz à narrativa, seja escrita por diferentes autores, em tempos diferentes, ou em diferentes culturas.

O Dilúvio Bíblico na Mitologia Comparada

A narrativa do dilúvio do Gênesis é mais uma de numerosos mitos de inundação. Muitos estudiosos acreditam que a história de Noé e do Dilúvio Bíblico são derivadas das versões mesopotâmicas predominantemente porque a mitologia bíblica que hoje é encontrada no Judaismo, Cristianismo, Islamismo e Mandeísmo é consistente com as antigas histórias da Mesopotâmia escritas sobre o Grande Dilúvio, e que alguns dos primitivos hebreus viveram na Mesopotâmia, durante, por exemplo, o cativeiro babilônico. O mais antigo mito escrito sobre o dilúvio é o mito do dilúvio sumeriano, encontrado no Épico de Ziusudra. Histórias similares e mais recentes são encontradas nos textos do Épico de Gilgamesh e do Épico de Atrahasis.

A Narrativa do Dilúvio: Os Nefilins (נְפִלנ ְפִיל)

Gênesis 6:1–4 apresenta os Filhos de Deus se unindo às filhas dos homens e gerando uma raça de gigantes, "os homens valentes da antiguidade, homens de renome". O Gênesis continua: "E o Senhor viu que a maldade do homem era grande na terra. e que toda a imaginação dos pensamentos do seu coração era má continuamente". Deus decidiu destruir o que ele tinha feito e começar de novo com o justo Noé. Deus escolheu o dilúvio como instrumento da destruição que é retratada como uma verdadeira inversão da criação.

O Julgamento de Deus

Na narrativa do Gênesis, o dilúvio ocorre porque Deus julga a humanidade. Nos versos 6:5-8, Yahweh (ou "O Senhor") julga a humanidade por ser perversa e má. Nos versos 6:11-22, Deus julga a humanidade por ser corrupta e violenta.  O julgamento nos versos 6:5-8 é pensado a ter sido escrito antes e combinado posteriormente com a segundo. Este elemento do julgamento faz com que a história do dilúvio bíblica se diferencie do dilúvio do babilônico Épico de Gilgamesh. Na história de Gilgamesh o dilúvio é mencionado apenas em passagem da própria narrativa do Épico, e aparece como tendo sido resultado de um capricho politeístico, e não o supremo julgamento de um Deus moral. Contudo na versão do Atrahasis da história babilônica do dilúvio (que lida diretamente com a inundação), fica claro que o dilúvio foi enviado pelos deuses para reduzir a superpopulação humana, e depois do dilúvio outras medidas foram introduzidas para prevenir que o problema acontecesse novamente.

Preparando a Arca

Começando com Genesis 6:14, Deus dá instruções à Noé para construir um navio à prova d'água que iria abrigar sua família, juntamente com uma amostra de cada vida animal. O navio é uma arca feita de madeira gôfer coberta por piche por dentro e por fora. A Arca era para ter 300 côvados de comprimento, 50 metros de largura e 30 côvados de altura e com uma abertura para a entrada da luz do sol no alto, uma entrada em um lado e três plataformas. Deus disse à Noé que ele, seus filhos, sua esposa e as esposas de seus filhos, e dois exemplares de cada espécie - macho e fêmea - sobreviveriam na Arca (Genesis 6:1–22). Sete dias antes do Dilúvio, Deus disse à Noé para entrar na Arca com sua família, e para levar sete pares de cada animal limpo e cada pássaro, e um par de cada um dos outros animais, para manter sua espécie viva (Genesis 7:1–5)

O Grande Dilúvio

A fonte Sacerdotal (Elohim) descreve a natureza das águas do dilúvio como um cataclisma cósmico, pela abertura das nascentes das profundezas e das comportas ou janelas do céu. Isto é o reverso da separação das águas mencionados na narrativa da criação de Gênesis 1. Depois que Noé e o restante dos animais estavam seguros, as fontes do grande abismo e as comportas ou janelas do céus foram abertas, causando uma chuva sobre a Terra por 40 dias. As águas se elevaram, com os picos das montanhas mais altas sob 15 côvados de água, inundando o mundo por 150 dias, e retrocedendo em 220 dias.

A versão javista (YHWH) de como as águas do dilúvio vieram a surgir é indicada em  Gênesis 7:12, onde elas se desenvolvem por meio de uma chuva torrencial que dura ao menos 40 dias, e então recua em períodos de sete dias. Durante este tempo, a Arca repousou sobre as montanhas de Ararate, onde Noé abre a janela e enviou um corvo para fora, que foi de lá para cá. Então ele soltou uma pomba para ver se as águas haviam diminuído, mas a pomba não pode encontrar um lugar para descansar, e retornou à Arca. Ele esperou outros setes dias, e novamente soltou a pomba, e a pomba voltou à noite trazendo um ramo de oliveira. Ele esperou outros sete dias e soltou a pomba, e ela não retornou. Quando Noé removeu a cobertura da Arca, ele viu que a terra estava seca (Genesis 8:1–13).

O Pacto do Arco Iris

Deus faz um pacto de garantia com Moisés em  Genesis 9:1–17. A Versão Sacerdotal (Elohim) assume a forma de uma forma de Aliança. Este é o primeiro ato explicito de uma aliança ou pacto na Bíblia Hebraica e é usada sete vezes neste episódio. Deus se empenha em continuar tanto a vida humana como animal e promete nunca mais usar um segundo dilúvio contra a humanidade. O pacto é selado com um sinal de um arco íris, após a tempestade, como um lembrete.

Deus abençoa Noé e seus filhos usando a mesma linguagem da Fonte Sacerdotal sobre a narrativa da criação do Gênesis. "Sejam frutíferos e aumentem e encham a Terra". Antes do Dilúvio animais e homens coexistiam em um domínio de paz e apenas conhecendo uma dieta vegetariana. Depois do Dilúvio, Deus sustentou que a humanidade seria responsável sobre os animais, garantindo que eles poderiam servir como alimento sob a condição que o seu sangue fosse retirado. Deus estabeleceu estas regras de pureza bem antes de qualquer transação com o Antigo Israel, e efetivamente não se limitaria tal procedência exclusivamente à fé judaica. A vida humana recebe sanção divina especial porque a humanidade é uma imagem de Elohim (Deus)

Tabela: Os elementos das fontes Sacerdotal (P) e Javista (J) da narrativa do dilúvio (Gênesis 6-9)



Fonte Sacerdotal
Fonte Javista
Título e Introdução
Punição divina por causa                 6:11:13
da maldade humana
Punição divina por causa                   6:5-8
da maldade humana
Noé é ordenado a construir             6:14-18a
uma Arca
Noé é ordenado a levar sua            6:18b-22
família e dois exemplares de
cada espécie animal dentro
da Arca.
Noé é ordenado a levar                     7:1-5
sua família, sete pares
de cada animal limpo e
um par de cada animal impuro
dentro da Arca.
Idade de Noé                                          7:6
Data do Dilúvio                                     7:11
A chuva cai por mais de 40 dias          7:12
Noé, sua família e os                     7:13-16a
animais entram na Arca
Noé, sua família e os                       7:7-10
animais entram na Arca
O dilúvio vem sobre a Terra                 7:17a
O dilúvio vem sobre a Terra     7:16b e 17b
Descrição do Dilúvio                         7:18-21
Descrição do Dilúvio                      7:22-23
A inundação dura 150 dias                     7:24
Deus termina o dilúvio                      8:1-2a
O Dilúvio termina                         8:2b-3a
As águas recuam e a                        8:3b-5
Arca para sobre Ararat
Noé envia pássaros                         8:6-12
para testar o nível das águas
Data da secagem do                 8:13a e 14a
Dilúvio
Noé vê que a Terra está seca            8:13b
Noé é ordenado a deixar a                8:15-19
Arca
Noé sacrifica a Deus                      8:20-22
Deus faz um pacto com Noé               9:1-17
Duração da vida de Noé                   9:28-29

Referencias Bibliográficas

The Pentateuch A Story of Beginnings, Paula Gooder, T&T Clarck Approaches to Biblical Studies, páginas 38 e 39

segunda-feira, 7 de julho de 2014

As Duas Narrativas Contraditórias da Criação do Genesis

Fontes e Origens do Pentateuco

Embora a tradição atribua a composição do livro de Gênesis à Moisés, os estudiosos bíblicos asseguram que, junto com os outros quatro livros restantes (perfazendo o que os judeus chamam de Torá e os estudiosos bíblicos chamam de Pentateuco) é "um trabalho composto, o produto de muitas mãos e períodos". Uma hipótese comum entre os estudiosos bíblicos hoje é de que a maior parte abrangente do Pentateuco foi composta amplamente nos séculos 7 ou 6 a.C. ( a fonte Javista), e que esta foi mais tarde expandida pela adição de várias narrativas e leis (a fonte Sacerdotal) em um trabalho que é muito similar ao existente hoje. As duas fontes aparecem em ordem reversa:   Genesis 1:1–2:3 é Sacerdotal e Genesis 2:4–24 é Javista.

Quanto ao contexto histórico que conduziu a criação da narrativa em si, a teoria que tem ganhado interesse notável, embora ainda controversa, é a "Autorização Imperial Persa". Ela propõe que os persas, após sua conquista da Babilônia em 538 a.C., concordaram em garantir à Jerusalém uma ampla medida de autonomia local dentro do Império, mas exigiram das autoridades locais que produzissem um único código de leis aceito por toda a comunidade. Isso implica que existiam dois grupos poderosos na comunidade: as famílias sacerdotais que controlavam o Templo, e as famílias proprietárias de terras que se compunham pelos "anciãos", e estes dois grupos estavam em conflito por muitos motivos, e cada um tinha sua própria "história das origens", mas a promessa persa de uma maior autonomia local para todos deu um poderoso incentivo na cooperação na produção de um único texto.

Estrutura das Duas Narrativas

A narrativa da criação é feita de duas histórias, grosseiramente equivalente aos dois primeiros capítulos do Livro do Gênesis (Lembrando que não existem divisões de capítulos no texto hebraico original). A primeira narrativa (1:1 à 2:3) emprega uma estrutura repetitiva de fiat divino e realização, então a sentença: "E houve tarde e manhã, o ...ésimo dia" para cada um dos seis dias de criação. Em cada um dos três primeiros dias há um ato de separação: o primeiro dia a luz se separa da escuridão, o segundo dia as "águas superiores" das "águas inferiores" e no terceiro dia a terra do mar. Em cada um dos três dias seguintes estas separações ou divisões são povoadas: no quarto dia  a escuridão e a luz são povoadas com o sol, a lua e as estrelas, no quinto dia os mares e céus são povoados com peixes e aves, e finalmente as criaturas terrestres e a humanidade povoam a terra..

As duas histórias são mais complementares do que  sobrepostas, com a primeira (a história Sacerdotal) preocupada com o plano cósmico da criação, enquanto que a segunda (a história Javista) se focando no homem como cultivador do seu ambiente e como um agente moral. Existem paralelos significantes entre as duas histórias, mas também diferenças notáveis: a segunda narrativa, em contraste com o esquema organizado dos sete dias de Genesis 1, usa uma narrativa simples em estilo fluente que procede da formação de Deus do primeiro homem através do Jardim do Éden até a criação da primeira mulher e a instituição do casamento; em contraste com o Deus onipotente de Genesis 1,criando uma humanidade como deus, o Deus de Genesis 2 pode tanto falhar como ter sucesso; a humanidade  que ele cria não é como deus, mas é punida por atos que a levariam a se tornar como deus (Genesis 3:1-24); e a ordem e o método de criação diferem entre si. Juntas, esta cominação de caracteres paralelos e perfis contrastantes apontam para diferentes origens dos materiais em   Genesis 1:1–2:3 e 2:4b–3:23, muito embora eles tenham sido elegantemente combinados.

As narrativas primárias em cada capítulo são unidas por uma "ponte literária" em  Genesis 2:4a: "Estas são as gerações dos céus e da terra quando eles foram criados". Isto ecoa a primeira linha de Genesis 1: "No Princípio Deus criou os céus e a terra", e é revertido na frase seguinte Genesis 2:4b: "... no dia em que o Senhor Deus fez a terra e os céus". Este verso é uma das dez frases de gerações(do hebraico תולדות‎ tôledôt) usadas através do Genesis, que providenciam uma estrutura literária ao livro. Elas normalmente funcionam como cabeçalho ao texto que vem depois, mas a posição desta, a primeira das séries, tem sido assunto de muito debate.

As duas tabelas abaixo mostram as duas narrativas bíblicas da criação comparadas. Para tanto utilizei, como referência, a Bíblia de Jerusalém:


Primeira Narrativa (Gênesis 1:1-2:3)

Segunda Narrativa (Gênesis 2:4-25)
Gênesis 1:25-27 (Humanos foram criados  depois dos outros animais)

Deus (Elohim) fez as feras segundo sua espécie, os animais domésticos segundo sua espécie e todos os répteis do solo segundo sua espécie, e Deus (Elohim) viu que isso era bom. E Deus (Elohim) disse: Façamos o homem à nossa imagem... Deus (Elohim) criou o homem à sua imagem.




Gênesis 1:27 (O primeiro homem e a primeira mulher foram criados simultaneamente)


E Deus (Elohim) criou o homem à sua imagem, à imagem de Deus (Elohim) ele o criou, homem e mulher ele os criou.
Gênesis 2: 18-19 (Humanos foram criados  antes dos outros animais)

Iahweh Deus disse: Não é bom que o homem esteja só. Vou fazer uma auxiliar que lhe corresponda. Iahweh Deus modelou então, do solo, todas as feras selvagens e todas as aves do céu e as conduziu ao homem para ver como ele as chamaria: cada qual devia levar o nome que o homem lhe desse.



Gênesis 2: 18-22 (O homem foi criado primeiro, então os animais, e então a mulher foi criada da costela do homem)


Então Iahweh Deus fez cair um torpor sobre o homem, e ele dormiu. Tomou uma de suas costelas e fez crescer carne em seu lugar. Depois, da costela que tirara do homem. Iahweh Deus modelou uma mulher e a trouxe ao homem.



Referência Bibliográfica:
 

The Pentateuch A Story of Beginnings, Paula Gooder, T&T Clark Approaches To Biblical Studies, 2005

sexta-feira, 4 de julho de 2014

Vulgata, a Bíblia Latina

A Vulgata é a translação latina da bíblia do fim do quarto século que se tornou, durante o décimo sexto século, a versão latina oficialmente promulgada da Igreja Católica da Bíblia.

A Vulgata foi oficializada como Bíblia Latina da Igreja Católica como uma consequência do Concílio de Trento (1545-1563), quando, em face da Reforma Protestante, se tornou evidente que era necessária uma referência de autoridade para a escritura.

A tradução é um trabalho majoritário de São Jerônimo, que, em 382, foi comissionado pelo papa Dâmaso I para revisar a Vetus Latina ("Latim Antigo"), que era uma coleção de textos bíblicos em latim então em uso pela Igreja. Uma vez publicada, a Vulgata foi amplamente adotada, acabou eclipsando a  Vetus Latina e, por volta do século 13, se tornou conhecida como a  "versio vulgata(a versão comumente usada) ou, mais simplesmente, como a "vulgata".

Autoria da Vulgata

A Vulgata tem um texto composto que não é um trabalho inteiramente de Jerônimo. Seus componentes incluem:

● A tradução independente de Jerônimo do hebraico: os livros da Bíblia Hebraica, usualmente não incluindo sua tradução dos Salmos. Isto foi completado em 405.
● Tradução do grego de Teodócio por Jerônimo: As três adições ao livros de Daniel; Canção das Três Crianças, História de Susana e Bel e o Dragão. A Canção das Três Crianças foi retida dentro da narrativa de Daniel, enquanto que as outras duas adições Jerônimo colocou no fim do livro.
● Translação da Septuaginta por Jerônimo: Adições à Ester. Jerônimo reuniu todas estas adições juntas no final do livro de Ester.
● Tradução da Septuaginta Hexaplar por Jerônimo: sua versão galicana (Versio Gallicana ou Psalterium Gallicanum) do livro de Salmos. As revisões hexapláricas de Jerônimo de outros livros do Antigo Testamento continuaram a circular na Itália por muitos sécuos, mas apenas Jó e fragmentos de outros livros sobreviveram.
● Tradução livre de Jerônimo de uma versão aramaica secundária: Tobias e Judite
● Revisão de Jerônimo da Vetus Latina, corrigida com referência aos mais antigos manuscritos gregos disponíveis: os Evangelhos.
Vetus Latina, mais ou menos revisadas por uma pessoa ou pessoas desconhecidas: Baruque, Carta de Jermias, 3 Esdras, Atos, Epístolas e o Apocalipse.
● Vetus Latina, amplamente não revistos: Epístola aos Laodicenses, Oração de Manassés, 4 Esdras, Sabedoria ou Sirácida, Eclesiástico e 1 e 2 Macabeus.





Septuaginta, a primeira bíblia Cristã

A Septuaginta, da palavra latina septuaginta (que significa setenta), é a translação da Bíblia Hebraica e textos relacionados para o Grego Koiné. O título e seu numeral acrônimo romano LXX se referem aos legendários setenta sábios judeus que completaram a tradução no inicio ou fim do segundo século a.C. Como a primeira translação grega do Antigo Testamento, ela também é chamada de Antigo Testamento Grego (Ἡ μετάφρασις τῶν Ἑβδομήκοντα).  Esta tradução é citada no Novo Testamento, particularmente nas epístolas Paulinas, e também pelos Padres Apostólicos e últimos Padres Gregos.

A Septuaginta não deve ser confundida com sete ou outras mais versões em grego do Antigo Testamento, muitas das quais apenas existem na forma de fragmentos (algumas partes daquilo que é conhecido da Hexapla de Orígenes, uma comparação de seis traduções em colunas adjacentes, agora quase totalmente perdida). Uma destas, a mais importante, foram feitas por Aquila, Símaco e Teodócio.

A Origem do Nome

A palavra Septuaginta, como dito acima, deriva seu nome da expressão latina versio septuaginta interpretum, "tradução dos setenta interpretes", do grego  ἡ μετάφρασις τῶν ἑβδομήκοντα,hē metáphrasis tōn hebdomḗkonta, "tradução dos setenta". Contudo, não foi até o tempo de Agostinho de Hipona (354-430 d.C.) que a translação grega das escrituras judaicas se tornou conhecida pelo termo latino Septuaginta. O numeral romano LXX (Setenta) é comumente usado como abreviação em vários textos para a Septuaginta.

A lenda sobre a composição

Estes títulos se referem a história legendária, de acordo com a qual setenta ou setenta e dois sábios judeus foram solicitados (O texto do Talmude implica que os sábios foram forçados) pelo rei grego do Egito Ptolomeu II Filadelfo que traduzisse a Torá da Bíblia Hebraica para o Grego, para sua inclusão na Biblioteca de Alexandria.

Esta lenda é primeiramente encontrada na pseudepigráfica Carta de Aristeas ao seu irmão Filócrates, e foi repetida, com adornos, por Fílon de Alexandria, Josefo e por outras fontes tardias, incluindo Santo Agostinho. Uma versão da lenda é encontrada no Tratado Megillah do Talmude Babilônico:

O rei Ptolomeu uma vez juntou 72 sábios. Ele os colocou em 72 salas, cada uma delas separada das outras, sem revelar a eles o porquê de haverem sido convocados. Ele entrou em cada sala e disse à cada um: "Escreva para mim a Torá de Moisés, seu mestre". Deus colocou no coração de cada um para traduzir identicamente como os outros traduziram.

Fílon de Alexandria, que dependia extensivamente da Septuaginta, diz que o número de sábios foi escolhido por se selecionar 6 sábios de cada uma das 12 tribos de Israel.

A História por trás da lenda

A data do terceiro século a.C., dada pela lenda, é confirmada (para a translação da Torá) é confirmada por numerosos fatores, incluindo o grego do texto sendo um representante do primitivo grego koiné, citações cujo inicio se situam no segundo século a.C., e manuscritos antigos datados do segundo século.

Depois da Torá, outros livros foram traduzidos ao longo dos dois e três séculos posteriores. Não está totalmente claro quando eles foram traduzidos, nem onde; e alguns podem até mesmo ter sido traduzidos duas vezes, em diferentes versões e posteriormente revisados. A qualidade e o estilo das diferentes traduções também varia consideravelmente de livro a livro, do literal ao parafraseativo.

O processo de tradução da Septuaginta pode ser partido em muitos e diferentes estágios, durante o meio social do qual os tradutores mudaram do Judaismo Helenístico para o Cristianismo Primitivo. A tradução começou no terceiro século a.C. e foi completada cerca de 132 a.C., inicialmente em Alexandria, mas como também em qualquer lugar.

A Septuaginta é a base para as versões do Antigo Testamento cristão, incluindo a versão Latina Antiga (também conhecida como Vetus Latina), a Eslavônica, a Síriaca, Armênia antiga, Georgiano antigo e também versões Coptas.

A língua da Septuaginta

Algumas seções da Septuaginta podem mostrar semiticismos, ou expressões idiomáticas e frases baseadas em línguas semíticas tais como hebraico e aramaico. Outros livros, como Daniel e Provérbios, mostra uma influência grega forte.