A tese defendida por Mircea Eliade em sua obra “O Mito do
Eterno Retorno” é que a mais importante diferença entre o homem das sociedades
arcaicas e tradicionais, e o homem das sociedades modernas, com sua forte marca
judaico-cristã, encontra-se no fato de o primeiro sentir-se indissoluvelmente
vinculado com o Cosmo e os ritmos cósmicos, enquanto que o segundo insiste em
vincular-se apenas com a História. Mas para isso temos que analisar primeiro a
relação destas duas religiões com o tempo linear, lembrando que, na opinião de
muitos estudiosos, o judaísmo é a primeira religião da história conhecida.
Mircea Eliade vê as religiões abraamanicas como um ponto de divisão entre
a antiga visão cíclica do tempo e a moderna visão linear do tempo, notando que,
no caso delas, os eventos sagrados não estão limitados à uma era primordial
distante, mas continuam através da história: “o tempo não é [apenas] o Tempo
Circular do Eterno Retorno, ele se tornou o Tempo Linear e irreversível”. Ele
então vê o Cristianismo como exemplo final de uma relação que abraça o tempo
linear e histórico. Quando Deus se torna um homem, dentro da linha da história,
“toda a história se torna uma teofania”. De acordo com Eliade, o “Cristianismo se esforça para salvar a história”. No
cristianismo, o Sagrado entra em um ser humano (Cristo) para salvar humanos,
mas ele também entra na história para “salvar” a história e transformar eventos
históricos ordinários em algo “capaz de transmitir a mensagem trans-histórica”.
Da perspectiva de Eliade, a mensagem trans-histórica do Cristianismo pode
ser a mais importante ajuda ao homem moderno poderia ter ao confrontar o terror
da história. Assim, ainda na perspectiva de Eliade, a história de Cristo se
torna o mito perfeito para o homem moderno. No cristianismo, Deus de bom grado
entrou no tempo histórico ao nascer como Cristo, e aceitou o sofrimento a ser
seguido. Por identificar-se com Cristo, o homem moderno aprende a confrontar os
eventos históricos dolorosos. Em última análise, Eliade vê o cristianismo como
única religião que pode salvar o homem do “Terror da história”.
Na visão de Eliade, o homem tradicional ou das sociedades arcaicas vê o
tempo como uma repetição sem fim dos arquétipos mitológicos. Em contraste, o
homem moderno abandou os arquétipos mitológicos e entrou no tempo linear e
histórico, neste contexto, ao contrário de muitas outras religiões, o Cristianismo
atribui valor ao tempo histórico. Assim, Eliade conclui, “O Cristianismo
incontestavelmente prova ser a religião do “homem decaído”, do homem moderno
que perdeu “o paraíso dos arquétipos e da repetição”.
Bibliografia e Referências
O Mito do Eterno Retorno, Edições 70, M. Eliade.
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