quarta-feira, 12 de outubro de 2016

Objeções ao Êxodo bíblico: incongruências, anacronismos e possíveis fontes e textos paralelos.

Os números e a logística do Êxodo

De acordo com Êxodo 12:37–38 o número de israelitas era “cerca de seiscentos mil homens a pé, além de mulheres e crianças”, mais muitos não-israelitas e o gado. O livro de Números 1:46 dá uma precisão total de 603.550 homens de 20 anos para cima. É difícil conciliar a ideia de 600.000 homens israelitas com a informação de que os israelitas estavam com medo dos filisteus e egípcios. Segundo a Chronological Index of Jewish History os aproximadamente 600.000 homens, mais mulheres, crianças, idosos e a multidão misturada de não-israelitas teria um número de uns 2 milhões de pessoas. Supondo que essa multidão marchasse formando 10 pessoas lado a lado, e sem contar o gado, eles formariam uma linha de 241 quilômetros de comprimento. A população inteira do Egito em 1250 a.C. é estimada a ter sido entre 3 e 3,5 milhões, e nenhuma evidência foi encontrada para que o Egito tenha sofrido uma catástrofe econômica e demográfica tal como a perda de uma população desta magnitude representaria, e nem o deserto do Sinai hospedou (ou poderia ter hospedado) esses milhões de seres humanos e seus rebanhos.

Alguns pensaram estes números em termos de figuras ou exemplos menores, como por exemplo, leram o termo “600 famílias” ao invés de 600.000 homens, mas cada uma das soluções tem seu próprio conjunto de problemas. A explicação mais provável é que 600.000 simbolize o total da geração destruída de Israel que deixou o Egito, nenhum daqueles que viveram para ver a Terra Prometida, enquanto que 603.550 é uma gematria (um código no qual os números representam letras ou números) para bnei yisra’el kor rosh, que em hebraico antigo significa “Os filhos de Israel, cada Indíviduo”.

Anacronismos

Embora a datação interna da bíblia para o Êxodo seja para o Segundo Milênio a.C., os detalhes apontam para a data do Primeiro Milênio a.C. para a composição do livro do Êxodo: Por exemplo, Ezion-Geber (um dos locais descritos pelo Êxodo), data de um período entre o século 8 e 6 a.C., com uma possível ocupação posterior no século 4 a.C., e os topônimos na rota do Êxodo que foram identificados – Goshem, Piton, Sucote, Ramesses e Cades-Barnéa – apontam para a geografia do primeiro milênio ao invés do segundo milênio a.C.

Similarmente, o receio do Faraó de que os israelitas pudessem se aliar com invasores estrangeiros parece improvável no contexto do fim do segundo milênio a.C., quando a região de Canaã era parte do império egípcio, e o Egito não enfrentava inimigos naquela direção, mas faz sentido no contexto do primeiro milênio a.C., quando o Egito era consideravelmente mais fraco e enfrentou uma primeira invasão do Império Aquemênida e posteriormente do Império Selêucida.

A menção do dromedário em Êxodo 9:3 também sugere uma data posterior de composição – a domesticação difundida do camelo como animal de rebanho é pensada a não ter acontecido antes do fim do fim do segundo milênio a.C., depois que os israelitas já tinham surgido em Canaã, e os camelos não tinham sido difundidos no Egito até cerca de 200–100 a.C.

A Cronologia dos eventos

Da mesma maneira, a cronologia da história do Êxodo sublinha a sua natureza essencialmente religiosa em vez da histórica. O número sete era sagrado à Deus no Judaísmo, e assim que os israelitas chegaram na Península do Sinai, onde eles encontraram Deus, no começo da sétima semana após sua saída do Egito; enquanto na construção do Tabernáculo, que é a morada de Deus entre o seu povo, ocorre 2666 anos depois de Deus criar o mundo, dois terços do tempo através de uma Era de quatro mil anos, que culmina em torno da re-dedicação do segundo templo em 164 a.C.

A Rota de Fuga

O Pentateuco cita os lugares onde os israelitas descansaram. Poucos nomes do começo do itinerário, incluindo Ramesses, Pithom e Sucote, são razoavelmente bem identificados dentro dos sítios arqueológicos, na borda oriental do delta do Nilo, assim como Cades-Barnéa, onde os israelitas passaram 38 anos após voltarem de Canaã [Episódos dos 12 espiões], mas dos outros lugares muito pouco é certo.

quinta-feira, 25 de agosto de 2016

Linha de tempo do Budismo

Esta linha do tempo é apenas para dar alguns detalhes da história do Budismo, seus eventos marcantes, desde o nascimento de Gautama Buda até os dias atuais. A época de nascimento e morte de Gautama é incerta. Muitos historiadores no começo do século 20 dataram sua vida de aproximadamente 563 a.C. até 483 a.C. Mais recentemente, todavia, sua morte é data de maneira mais recente, entre 411 e 400 a.C., enquanto que no ano de 1988 surgiu a tese que ganhou ampla aceitação de datas dentre do limite de 20 anos mais tarde ou mais cedo ao longo do ano de 400 a.C. para a morte de Buda. Contudo, nenhuma destas cronologias alternativas tem aceitação total por parte dos historiadores.

Budismo Indiano

• 404 a.C. O primeiro concílio Budista é convocado logo após a morte de Buda em 404 a.C. Segundo a tradição budista, um concílio de 500 arhats foi realizado em Rajgir, para acordar os conteúdos do Dharma e do Vinaya. Ananda recitou os Suttas, cada um deles começando pela fórmula: “Assim eu ouvi”. O monge Upali recitou o Vinaya.

• 383 a.C. O Segundo concílio Budista é convocado por Kalasoka, da dinastia Shishunaga, e realizado em Vaishali.

• ~ 250 a.C. O Terceiro Concílio Budista, convocado pelo imperador Ashoka e presidido por Moggaliputta-Tissa, compila o Kathavatthu para refutar as visões heréticas e teorias mantidas por algumas seitas budistas. Os éditos de Ashoka no Império Máuria em apoio ao budismo.

• ~250 a.C. Ashoka envia vários missionários budistas para vários países distantes, como a China, Indochina e reinos malaios no leste e os reinos helenísticos no oeste, de modo a fazer o budismo conhecido por eles.

• 250 a.C. O primeiros textos completamente desenvolvidos em escrita Kharoṣṭhī nas inscrições em Shahbazgarhi e Mānsehrā na região de Gandhāra (que modernamente está em regiões do Paquistão e Afeganistão)

• século 3 a.C. Comerciantes indianos regularmente visitam portos na Península arábica. Isto explica a origem budista e indiana para certos topônimos na região.

• ~ 220 a.C. O Therevada é oficialmente introduzido no Sri Lanka por Mahinda, filho de Ashoka, durante o reinado de Devanampiya Tissa.

• 185 a.C. O general Pushyamitra Shunga derruba o Império Máuria e estabelece o Império Shunga, aparentemente iniciando uma onda de perseguição ao Budismo.

• 180 a.C. o rei Demétrio I da Bactriana invade a India até Pataliputra, e estabelece o reino Indo-grego. Demétrio teve boas relações com a religião budista, e inclusive a fomentou. Sob o Reino Indo-grego (de 180 a.C. – 10 a.C.), o budismo floresceu.

• ~150 a.C. O rei indo-grego Menandro I se converte ao budismo sob o sábio Nāgasena, de acordo com a narrativa do texto Milinda Panha


Expansão do Budismo



• 120 a.C. O imperador chinês Han Wudi (156 – 87 a.C.) recebe duas estátuas douradas de Buda, de acordo com inscrições nas cavernas Mogao, em Dunhuang.


• Século I a.C. O governador indo-grego Teodoro consagra algumas relíquias de Buda, dedicando-as ao deificado “Senhor Shakyamuni”.

• 29 a.C. De acordo com as Crônicas Sinhalesas, o cânone Páli é escrito durante o reinado do rei Vaṭṭagamiṇi (29 – 17 a.C.)

• 2 a.C. O Livro de Han Posterior (Hou Hanshu) menciona a visita, em 2 a.C., de enviados da etnia Yuezhi a capital chinesa, que dão ensinamentos orais dos sutras budistas.

• 67 O apoio de Liu Ying, irmão do imperador Guang Wudi, ao Budismo, é o primeiro caso documento de praticas budistas na China.

• 67 o Budismo chega à China com os dois monges Kasyapa e Dharmaraksha.

• 68 o Budismo é oficialmente estabelecido na China com a fundação do Templo do Cavalo Branco.

• 78 Ban Chao, um general chinês, subjuga o reino budista de Khotan.

• 78 – 101: De acordo com a tradição Mahayana, o quarto concílio Budista toma lugar sob o reinado de Kushana, rei de Kanishka, perto de Jalandar, India.

domingo, 21 de agosto de 2016

A narrativa do Êxodo bíblico e as tradições proféticas em Israel

A forma final do Pentateuco, tal como conhecemos hoje, foi baseada em tradições antigas. Estas tradições deixaram traços em mais de 150 referências através da bíblia. A mais antigas estão possivelmente nos profetas Amós e certamente em Oséias, ambos ativos no século 8 a. C. em Israel, ao contrário o Proto-Isaías e Miquéias, ambos ativos em Judá à mesma época, não existem tais referências. Parece razoável concluir que a tradição do Êxodo fosse importante no reino do Norte no século 8 a.C., mas não em Judá.

Em um recente trabalho [2009], S. C. Russel traça a tradição profética do século 8 a.C. à três variantes originalmente separadas: no reino do Norte de Israel, na Transjordânia e no reino do Sul de Judá. Russel propõe diferentes fundos históricos hipotéticos para cada tradição: para a tradição de Israel, que envolve uma jornada do Egito até a região de Betel, ele sugere que é a memória dos pastores que poderiam se mover para e do Egito em tempos de crise, para a tradição da Transjordânia, que se foca na libertação do Egito sem a jornada pelo deserto, ele sugere a memória da retirada do controle egípcio ao fim da Idade do Bronze Final, e para Judá, cuja tradição é preservada na chamada Canção do Mar, ele sugere a celebração de uma vitória militar sobre o Egito, embora seja impossível sugerir o que essa vitória possa ter sido. 


Referências Bibliográficas

Introduzione alla lettura del Pentateuco, Jean Louis Ska
Images of Egypt in early biblical literature, Stephen C. Russel

A complexidade das provas do êxodo bíblico

Embora a questão da historicidade continue a atrair a atenção popular, muitas historias do antigo Israel não levam em consideração informação recuperável ou mesmo relevante sobre a história da origem de Israel. As evidências arqueológicas não apoiam a história contada no livro do Êxodo, e a maioria dos arqueólogos abandonaram a investigação de Moisés e do Êxodo como uma busca infrutífera. A opinião da maioria dos estudiosos bíblicos modernos é que a história do êxodo foi formada em sua forma presente no período pós-Exílio, embora as tradições atrás da história são mais antigas e podem ser traçadas nos escritos dos profetas do século oitavo a.C. Como muito além do que a tradição pode ir não pode ser contada, presumivelmente uma história original do êxodo jaz escondida em algum lugar dentro das antigas revisões e alterações, mas séculos de transmissão obscureceram sua presença, e sua essência, precisão e data são agora difíceis de se determinar.

Os dados arqueológicos não concordam com o que é esperado da história do êxodo bíblico: não há evidências de que os judeus viveram no Antigo Egito, a Península do Sinai  não mostra sinais de qualquer ocupação por todo o segundo milênio a.C., e até mesmo a região citada como Cades-Barnéa [Kadeh-Barnea], onde os judeus foram ditos terem passado 38 anos, era inabitada antes do estabelecimento da monarquia israelita.

Os estudiosos geralmente concordam que embora a narrativa do êxodo contenha elementos do mais tardar do segundo milênio a.C., não é demonstrado que estes elementos não pudessem pertencer a qualquer outro período e que eles sejam consistentes com o conhecimento que um escritor do primeiro milênio a.C. que estivesse tentando definir uma história antiga do Egito pudesse ter conhecido. Poucos estudiosos continuam a discutir a historicidade ou menos a plausibilidade da história, embora os historiadores do antigo Israel raramente respondam.  Os estudiosos que ainda defendem a historicidade do êxodo avançam em uma série de argumentos para explicar a ausência de provas: possivelmente os registros egípcios da presença dos israelitas e sua fuga podem ter sido perdidos ou suprimidos,  possivelmente (ou provavelmente) os fugitivos israelitas não deixaram nenhum vestígio arqueológico no deserto, possivelmente os enormes números relatados na história foram mal traduzidos, etc.

Referências:

Biblical History and Israel's Past; Brad Kelle , Megan Bishop Moore; pág. 88-90
História da Religião de Israel, George Fohrer.